21 fevereiro 2007

As outras deslocalizações

Num circo político como o português, onde os políticos e os jornalistas assistem, sempre num tom de uma certa altivez brincalhona, à luta incansável das populações para que se mantenham os poucos estabelecimentos públicos que ainda se situam nas suas localidades, apenas vi Pedro Santana Lopes (jornal Público de ontem) atacar esta politica do governo de Sócrates. Criticou, e bem, mas apenas para apontar erros à governação de Sócrates e não pelo interesse que nutre, ou não, face à população daquelas localidades. Maternidades até agora foram 8: Amarante, Mirandela, Barcelos, Oliveira de Azeméis, Elvas, Figueira da Foz, Lamego e Santo Tirso. E destas 3 (Castelo Branco, Covilhã e Guarda) duas vão fechar. As ameaças são mais que muitas às instituições das populações mais isoladas e distantes do resto do país. Em vez de promover essas regiões através de uma descriminação positiva, faz-se precisamente o contrário. Faz-se tudo para que ninguém vá residir para o interior, e faz-se mais ainda para os que lá vivam emigrem ou fujam para o Litoral.

Portugal é um espaço complicado em termos demográficos. Temos inúmeros concelhos sem um mínimo exigível de população residente. Por outro lado, pode ser exequível um concelho com 6000 habitantes, mas quando quando apenas 1000 se concentram no centro e os outros 5000 estão espalhados por 10 freguesias (números meramente exemplificativos) torna-se difícil fornecer os mesmos serviços, acessos rodoviários, etc. a toda a população. Ainda há dias estive numa freguesia do concelho de Anadia que têm 3000 habitantes, mas está dividida em 14 lugares, todos bem separados uns dos outros. Ou aqueles concelhos no Minho com 100 mil habitantes e com 50 ou mais freguesias. São um sem número de serviços que têm que ser instalados em quase todas as freguesias. Assim torna-se difícil a manutenção dos serviços perto das populações. Em Arouca, onde costumo ir fazer montanhismo, existe uma freguesia com 200 habitantes, dividida em 5/6 lugares, e que fica a meia hora da sede do concelho. Para além de não terem nenhum serviço público (a junta fica no lugar central, mesmo assim o resto da população fica a 1/4 de hora do centro) ficam a mais de meia hora de alguns dos serviços básicos (câmara municipal, urgências médicas, etc.). E se vocês soubessem como são as estradas para lá...

Perante estes factos o mais importante é: tentar fixar as populações nas capitais de concelho (concelhos com muitas freguesias com pouca população), não expondo, assim, parte dela a uma grande distância dos serviços básicos. Tentar afastar as pessoas das grandes cidades (Lisboa e Porto), tornando a vida nelas complicada e exaltando as facilidades da vida no resto do país. Erradicar as universidades, por exemplo, das grandes cidades, para os estudantes sejam obrigados a sair destas. Incentivar os funcionários públicos a saírem de Lisboa e a irem viver para o resto do país, aumentando a eficiência dos serviços públicos na maior parte do país e tornando a vida em Lisboa insuportável. Deslocalizar serviços da administração central de Lisboa, colocando-os noutras localidades, não necessariamente longe de Lisboa, mas nunca no seu centro.

Sei que são medidas que atentam contra liberdades e direitos elementares das pessoas (por isso falei em "tentar") e por outro lado são bastante radicais, mas quanto mais tarde se começar a agir, mais tarde se verão resultados. E enquanto o tempo passa, o "interior" perde direitos e Lisboa passa ao lado desta realidade (pudera, é lá que moram os políticos e os jornalistas).

Um dia destes explico-vos porque se vive tão bem cá em Aveiro.

Sem comentários: