20 fevereiro 2007

Aristides, por onde andais?

Tenho vindo a constatar que muitos moralistas da nossa praça andam a decidir votar em Aristides de Sousa Mendes. É uma posição politicamente correcta. Não se lhe conhecem opiniões politicas de qualquer espécie, apenas sabe que passou 30 000 vistos a judeus quando era cônsul de Bordéus. Mas afinal, se estavam 1 milhão de refugiados em Lisboa durante a 2ª guerra mundial, e se muitos outros utilizaram Lisboa como ponto de passagem para a América, quem passou os outros centenas de milhares de vistos? Se Salazar não queria refugiados em Portugal, porque centenas de milhares de refugiados permaneceram em Portugal durante a 2ª guerra mundial?
Comecemos pelo início, o início do Sr. Mendes. Lembro-me que por volta do ano 2000 apareceu um cartaz lá na escola a dizer: "Sabe quem foi este homem? salvou 30 000 judeus...". Nessa altura é que se começou a falar de Aristides, já que nessa altura absolutamente ninguém o conhecia. Resta-me saber quem orquestrou tal campanha. Ponto 2: A fundação ASM. É curioso que no cinquentenário da sua morte, familiares dele se tenham revoltado contra a Sra. Maria Barroso, que tinha sido nomeada Presidente da Fundação, dizendo que não iriam admitir que ela fizesse o mesmo que fez quando esteve na Cruz Vermelha. No dia seguinte demitiu-se. O mais curioso desta história é que o familiar mais próximo de ASM residente em Portugal é um fervoroso Salazarista. Caricato foi ainda quando a Sra. Barroso não sabia onde estava enterrado ASM, passando uma enorme vergonha no tal cinquentenário.

ASM é assim o produto de uma última tentativa de exaltação de combatentes do Estado Novo perpetuada pelo nosso sistema. O concurso Grandes Portugueses é apenas um excelente meio.

Já ouvi dizer que não se estava a eleger o melhor português mas o maior português. Não se podem eleger portugueses que não tiveram uma acção decisiva na nossa história e na nossa cultura. Dos grandes, o objectivo é eleger o melhor. Aristides pode ter sido bom, mas não foi grande. Não foi grande, por causa de muitas coisas, como já expliquei. O bom, deixo ao critério de cada um.

Aristides morreu pobre? Não acredito, mas de certeza que não morreu a lutar contra o Estado Novo, mas sim arrependido com os sucessivos erros que cometeu na sua vida e que o deixaram sozinho no seu palácio em Cabanas de Viriato, para cumprir os seus últimos dias. Paz à sua alma.

Se fosse para eleger o bom português, tinha votado no Padre Américo, pelo menos o seu trabalha ajudou e continua a ajudar portugueses, crianças indesejadas ou órfãs.

Para os nossos moralistas, é uma luta entre o bem, ASM, e o mal, Oliveira Salazar. Do mal, o menos, que ganhe Salazar, que para falsos heróis já basta a lista de militantes do PCP...

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