Excelente texto presente na ultima edição da Alameda Digital, aliás, acompanhado da musica de Leo Valeriano - Il coraggio di dire di no. Pode ser lido clicando aqui
Teci um comentário à autora onde também relato algumas experiencias pessoais no confronto com o sistema de democracia e o seu principal meio de propaganda: o ensino!
Cara Rita Andrade:
Fiquei sensibilizado com o teu texto na Alameda Digital "Crescer em democracia ou a coragem de dizer não", não só pelo conteúdo do texto em si, mas também pela tua idade: 19 anos, exactamente a minha.
Congratulo-me com aquilo que dizes pois hoje em dia é difícil alguém exprimir tais opiniões, principalmente quando se é universitário, como eu. Não só pela quantidade de jovens que pensam o contrário, mas sobretudo pela quantidade de jovens que pensam como nós, se calam e se deixam levar pela corrente do comodismo, da preguiça mental e da libertinagem.
Fiquei entusiasmado, devo dizer, porque alguém da minha idade levantou a voz contra o nosso sistema de ensino, fundado no marxismo (não esquecendo que a social-democracia é um marxismo democrático), principal meio de propaganda deste regime.
Também tive a minha boa dose de conflitos durante os mais de 13 anos em que estou a estudar. Embora viva numa terra de bons democratas (Gafanha da Nazaré - Aveiro) encontrei alguns professores que me deram negativa por discordar, nomeadamente, de opiniões históricas. Nunca me obrigaram a cantar a Grândola vila morena, mas porque os professores tinham que obedecer aos seus superiores, pessoas como Fulano Saraiva de Carvalho, o "terrorista", Sicrano Soares, o "corrupto" e Beltrano Cunhal, o "oportunista", foram sempre assumidos como salvadores da pátria. Fui levantando a voz até ao 9º ano, mas a partir do 10º tive que a baixar pois não queira prejudicar a média.
Lembro-me que na ESGN, onde andei desde o 7º até ao 12º, todos os anos em Abril, os alunos do 9º ano tinham que organizar uma exposição sobre o 25-A. Um painel ficou a cargo de mim e de um rapaz que se baldou. Claro que fui à minha biblioteca e lá colei umas fotocópias com dados concretos: o crescimento económico durante os anos 70. Até 73, média de 8% por ano; a partir de 74, média de 0% ao ano. Mais uns textos sobre Salazar e Marcello Caetano, mais as razões que originaram a guerra colonial (ataques terroristas aos portugueses lá residentes) e o tratamento dado aos africanos que combateram ao nosso lado e estava feita uma bela caldeirada, de sabor bem amargo. Processo disciplinar, repreensão por escrito e um pedido de desculpas a todos os presos políticos durante o Estado Novo. Escusado será dizer que nunca o formulei, mas a Repreensão foi dura e injusta, chegando ao ponto de me insultar.
O meu trabalho foi anulado e outros painéis, que apenas tinham imagens de tanques e cravos colados com fita-cola, levaram satisfaz muito bem.
A partir dos 18 anos, quando acabei o 12º, lá me voltei a interessar pela "nossa democracia". Descobri então livros que todos os editores se recusavam a publicar sobre o "corrupto". Achei curioso o facto desse senhor ter recebido um cheque de um milhão de contos de uma movimento angolano, para lá deixar as armar (viu-se no que deu) e que depois apareceu depositado numa conta na Suiça. Ou que o mesmo, em tempos, pisou a bandeira de Portugal, ou que tem uma fundação que ninguém sabe para o que serve e recebe milhões do estado todos os anos. Ah, que grande salvador!
Depois o "terrorista", que foi condenado e depois foi ilibado e, ainda cheio de razão, acusou um juiz de ter proferido um despacho coagido por duas prostitutas. Isto para além de ter dito à boca cheia que queria instaurar em Portugal um democracia popular, bem ao estilo soviético. Ah, que grande salvador!
Depois apareceu o "oportunista" que conseguiu que o seu partido, com 12,5% dos votos governasse sozinho em 75, ou que disse que não havia necessidade de mais eleições, os 12,5% tinham decidido e não se iria voltar atrás. Ah, que grande Salvador!
Mas o mais curioso foi nunca ninguém me ter explicado que se não fosse o 25 de Novembro de 75, teríamos ficado sob a batuta de um qualquer déspota fiel a Moscovo. Foi estas a história que eu fui aprendendo lendo os tais livros proibidos, o pouco que foi publicado e ouvindo testemunhas que sentiram na pele as incidências do PREC.
Tenho pena que hoje em dia a juventude não queira saber mais do que aquilo que lhe é dado a saber. É preciso procurar outro conhecimento, outras perspectivas, para se poder formular uma opinião livre de qualquer controlo do sistema. É preciso lutar contra a desinformação e contra a injustiça histórica que esta democracia nos impõe.
Congratulo-me com aquilo que dizes pois hoje em dia é difícil alguém exprimir tais opiniões, principalmente quando se é universitário, como eu. Não só pela quantidade de jovens que pensam o contrário, mas sobretudo pela quantidade de jovens que pensam como nós, se calam e se deixam levar pela corrente do comodismo, da preguiça mental e da libertinagem.
Fiquei entusiasmado, devo dizer, porque alguém da minha idade levantou a voz contra o nosso sistema de ensino, fundado no marxismo (não esquecendo que a social-democracia é um marxismo democrático), principal meio de propaganda deste regime.
Também tive a minha boa dose de conflitos durante os mais de 13 anos em que estou a estudar. Embora viva numa terra de bons democratas (Gafanha da Nazaré - Aveiro) encontrei alguns professores que me deram negativa por discordar, nomeadamente, de opiniões históricas. Nunca me obrigaram a cantar a Grândola vila morena, mas porque os professores tinham que obedecer aos seus superiores, pessoas como Fulano Saraiva de Carvalho, o "terrorista", Sicrano Soares, o "corrupto" e Beltrano Cunhal, o "oportunista", foram sempre assumidos como salvadores da pátria. Fui levantando a voz até ao 9º ano, mas a partir do 10º tive que a baixar pois não queira prejudicar a média.
Lembro-me que na ESGN, onde andei desde o 7º até ao 12º, todos os anos em Abril, os alunos do 9º ano tinham que organizar uma exposição sobre o 25-A. Um painel ficou a cargo de mim e de um rapaz que se baldou. Claro que fui à minha biblioteca e lá colei umas fotocópias com dados concretos: o crescimento económico durante os anos 70. Até 73, média de 8% por ano; a partir de 74, média de 0% ao ano. Mais uns textos sobre Salazar e Marcello Caetano, mais as razões que originaram a guerra colonial (ataques terroristas aos portugueses lá residentes) e o tratamento dado aos africanos que combateram ao nosso lado e estava feita uma bela caldeirada, de sabor bem amargo. Processo disciplinar, repreensão por escrito e um pedido de desculpas a todos os presos políticos durante o Estado Novo. Escusado será dizer que nunca o formulei, mas a Repreensão foi dura e injusta, chegando ao ponto de me insultar.
O meu trabalho foi anulado e outros painéis, que apenas tinham imagens de tanques e cravos colados com fita-cola, levaram satisfaz muito bem.
A partir dos 18 anos, quando acabei o 12º, lá me voltei a interessar pela "nossa democracia". Descobri então livros que todos os editores se recusavam a publicar sobre o "corrupto". Achei curioso o facto desse senhor ter recebido um cheque de um milhão de contos de uma movimento angolano, para lá deixar as armar (viu-se no que deu) e que depois apareceu depositado numa conta na Suiça. Ou que o mesmo, em tempos, pisou a bandeira de Portugal, ou que tem uma fundação que ninguém sabe para o que serve e recebe milhões do estado todos os anos. Ah, que grande salvador!
Depois o "terrorista", que foi condenado e depois foi ilibado e, ainda cheio de razão, acusou um juiz de ter proferido um despacho coagido por duas prostitutas. Isto para além de ter dito à boca cheia que queria instaurar em Portugal um democracia popular, bem ao estilo soviético. Ah, que grande salvador!
Depois apareceu o "oportunista" que conseguiu que o seu partido, com 12,5% dos votos governasse sozinho em 75, ou que disse que não havia necessidade de mais eleições, os 12,5% tinham decidido e não se iria voltar atrás. Ah, que grande Salvador!
Mas o mais curioso foi nunca ninguém me ter explicado que se não fosse o 25 de Novembro de 75, teríamos ficado sob a batuta de um qualquer déspota fiel a Moscovo. Foi estas a história que eu fui aprendendo lendo os tais livros proibidos, o pouco que foi publicado e ouvindo testemunhas que sentiram na pele as incidências do PREC.
Tenho pena que hoje em dia a juventude não queira saber mais do que aquilo que lhe é dado a saber. É preciso procurar outro conhecimento, outras perspectivas, para se poder formular uma opinião livre de qualquer controlo do sistema. É preciso lutar contra a desinformação e contra a injustiça histórica que esta democracia nos impõe.
Não quero com isto fazer a apologia do Estado Novo, mas, fundamentalmente, demonstrar que todos os regimes políticos, e porque o são, têm os seus próprios meios de repressão e a sua forma de se perpetuarem. A democracia não é excepção.
1 comentário:
Democracia é isso mesmo. Sujeitar-te à avaliação pelos outros.
Se tu foste castigado, injuriado, devias-te ter queixado aos teus pais e como o problema não era de ensino, devia ser resolvido entre eles e a ESCOLA.
Tu agora és um adulto, com remorsos, pelo que te fizeram, e talvez traumatizado, que te poderás vir a vingar, da mesma forma como foste tratado, LEMBRA-TE DISSO. És humano!!!
Enviar um comentário